Em 1553, um grupo de homens com a função de carpinteiros de machado especializados na construção e reparação de navios na Ribeira das Naus, toma a iniciativa de sair Irmandade de São Roque estabelecida na Ermida de São Roque (ao Bairro Alto), alegando que não tinham sido escutados pelos restantes membros da mesma corporação, sobre o contrato estabelecido para a cedência da ermida à Companhia de Jesus.
Após a saída da Irmandade, os Carpinteiros de Machado mantiveram a mesma devoção pelo seu orago e pediram autorização aos religiosos do Convento do Carmo, para aí edificarem um altar dedicado a São Roque, o que foi concedido.
O oratório foi construído junto à porta da Igreja do Convento, onde “havião dous vãos; hum da parte direita, e outro da esquerda, em que não havião Altares, por lhe ficar junto de encontro a escada, que descia para a mesma Igreja com bastantes degráos, e seria esta a cauza, porque o grande Condestavel naquelles dous vãos não mandou edificar Altares, o que com evidencia se prova, pois se naquelle citio houvesse Capella de outra Imagem, sempre esta se havia de conservar; segundo a forma do costume, no painel do Retabulo, e como a Cappella, que havia naqulle citio, não tinha outro painel, senão o de S. Roque, nem outro Santo de vulto, hé consequência de que a dita Capela foi fabricada de novo para o dito Santo, e que não havia outra naquelle Lugar, que fosse mais antiga (…)”.
O retábulo do Altar foi preenchido com uma pintura de Bento Coelho, cuja iconografia eram os “feridos de peste, lançados em cama, de baixo de barracas” e no meio do retábulo, num local mais destacado, uma pintura de S. Roque” (Freitas e Azevedo, 1781).
Esta foi a última capela a ser construída, e localizava-se no lado do Evangelho, sendo reconhecida pela inscrição: Esta Capella he de dona Isabel de Mello, tem missa quotidiana, para o que deixou sua fazenda. Ornou-se completamente, no final do século XVI.(…). Os Irmãos usavam capas cinzentas com murças e capelinhos pretos e faziam todos os anos, luzida festa ao seu patrono (O Carmo e a Trindade, vol. I, pp 383-384).
A Real Irmandade do Glorioso São Roque dos Carpinteiros de Machado
Foi instituída em 1570, formada por um grupo de homens leigos, juntamente com os seus filhos e parentes do mesmo ofício, e o seu Compromisso foi aprovado pelo Arcebispo de Lisboa, D. Jorge de Almeida, a 9 de Dezembro de 1581.
A entrada em actividade da Irmandade do Bem-Aventurado São Roque dos Carpinteiros de Machado, Convento de Nossa Senhora do Monte do Carmo, marca um novo período cultual em torno da devoção a São Roque, já que esta Irmandade apenas permitia a entrada de oficiais de elite (profissão de carpinteiro de machado, mais tarde actualizada para carpinteiros de navio), unidos numa missão para fortalecer e proteger as relações entre todos os seus membros, prestar culto e assistência religiosa e moral aos seus confrades e família, ajudar os Irmãos pobres e suas famílias, aplicar todas as verbas no cofre no resgate dos Irmãos que fossem captivos pelos Mouros, enterrar os Irmãos e fazer-lhes sufrágios.
No Catalogo das Santas Reliquias, que se venerão nos Santurarios desta Igreja, e Convento, são identificadas as relíquias dos Santos Confessores S. Roque, advogado da peste, N.R. S. Simão de Stoch Carmelita. S. Tude. S. Vicente Ferrer, R.N. (…), todavia ainda não foi possível relacionar a referida Relíquia de São Roque nas cerimónias da Irmandade.
Com o Terramoto de 1755, verificou-se a derrocada do Convento do Carmo e a Igreja, tendo a Irmandade do Glorioso São Roque dos Carpinteiros de Machado perdido os seus bens cultuais, mas recuperando dos escombros “a cabeça da Imagem do Gloriozo S. Roque, com seu Resplendor de prata, que hé a que ainda se venera hoje, pois se lhe mandou fazer um corpo, e acharão dois anjos de madeira, quatro castiçais de prata Lizos, e alguma prata queimada, que pezou duas arrobas, e vinte arráteis (…)”. Os Irmãos conseguem, ainda, recuperar a “imagem pequena de São Roque” porque esta tinha sido levada para casa do Marquês de Abrantes, onde lhe tributavam grande veneração (FREITAS E AZEVEDO, 1781).
Sem o seu espaço de culto, os Irmãos decidem promover perante o rei D. José I, a importância de edificar um novo templo dedicado a São Roque, no espaço do Real Arsenal.
A sequência histórica sobre a vida da Irmandade pode ser consultada na entrada de Capela de São Roque/ Arsenal da Marinha.