A antiga Ermida do Espirito Santo, localizada no Terreiro das Vacas (actual largo João de Deus) juntamente com a Ermida de São Silvestre (demolida no século XVIII), fez parte do núcleo medieval de assistência aos utentes destas caldas, a cargo da Ordem Beneditina de Santa Maria de Rocamador. A sua localização no núcleo mais antigo da vila torna-a num elemento fundamental de apoio espiritual aos peregrinos que percorriam estes caminhos em direcção a Santiago de Compostela. Com o fim de dar apoio aos peregrinos e aos passantes, o projecto hospitalar, promovido pela Rainha D. Leonor, consignava, no flanco sul junto ao Hospital, um conjunto de casas sobradas, com escadaria em pedra, no qual “assentamento he o aposentamento dos Romeiros e pelegrinos e pasajeiros e as logeas de baixo servem a estrebarias dos enfermos que se vem curar ao dito esprital” (Livro Primeiro de Registos, 1522-1579, fl.94v.-95).
No Livro da Fundação deste Hospital Real (tomo III, pp. 429-430), Jorge de São Paulo diz que a Ermida do Espirito Santo era “muy fermosa, com seu cabido [alpendre] e terreiro”, tendo sido fundada por Pero Taborda, o boticário do Hospital de Santa Maria do Populo (Hospital Termal) após o ano de 1552, por sua devoção e “pera sua sepultura”.
A Ermida foi construída com o apoio da Confraria do Espírito Santo e dos moradores, sendo prática corrente, pelo menos até 1656, a realização dum bodo, composto por 50 arrobas de carne e um moio de trigo cozido, como refere Frei Jorge de São Paulo.
Nestes primeiros tempos terá sido realizado o retábulo (pintado cerca de 1595), pela oficina de Diogo Teixeira. O retábulo apresenta uma estrutura de marcenaria pintada (em tons de marmoreado azul e vermelho) e dourada, com dois andares de inspiração maneirista, marcado pelos colunelos estriados com capitéis pela ordem coríntia na fiada superior e colunas com capitéis jónicos na fiada principal. No primeiro plano, a tábua da esquerda refere-se à “Anunciação” e a da direita, o “Baptismo de Cristo”. No plano superior temos, ao centro, uma “Santíssima Trindade”, entre “São Jerónimo” e um “Santo Antão”. Ao centro, está colocada uma maquineta envidraçada que, no século XVIII passou a receber a imagem de Nossa Sr.ª da Conceição.
Belchior de Matos foi um dos “quarenta privilegiados do conto” do Hospital, e a pintura do retábulo é coincidente com a data da sua radicação na vila das Caldas, onde passou a morar na Rua Nova (actual Rua Bordalo Pinheiro), na companhia da sua mulher Francisca de Matos e dos seus filhos, entre 1595 até á sua morte em 1628.
As paredes da sacristia estão revestidas com pintura a têmpera, formando nichos com a representação de Santos, cada um com a sua cartela de identificação, designadamente:
- 1ª parede: São Ivo, Santo Elisário, Santa Delfina, Santa Margarida
- 2ª parede: São Roque, Santa Clara, São Francisco de Borja
- Sobre a porta: uma inscrição
- 3ª parede: a leitura é muito dificultada pelo mau estado
- 4ª parede: São Luiz, Anjo, Santa Rosa