
A herança cultual da Irmandade de São Roque está intimamente ligada ao sentir desta comunidade enraizada no fervor devocional a São Roque e na vivência espiritual intensa e suas manifestações artísticas que expressão uma sensibilidade religiosa. À volta da Capela de São Roque estabelece-se um lugar de encontro e de encruzilhada de emoções onde o protagonismo vai para São Roque, mas também para o culto a São Sebastião e a São Tiago.
É, no século XVIII, que as cerimónias se revestem de grande protocolo e aparato. A magnificência destas celebrações impunha a transformação do espaço da Capela de São Roque, cenografado por um “andador” contratado pela Irmandade, que tinha sob a sua responsabilidade a inserção dos elementos decorativos de grande porte: as colgaduras de damasco, as sanefas de estilo “romano”, em tecidos lavrados e guarnecidos a “ouro fino”, que adornavam as paredes do templo, dando sentido e equilíbrio ao conjunto da Igreja. Sobre o pavimento pétreo da Capela estendiam-se tapetes com padronagem de pássaros exóticos. As elegantes alfaias eram confeccionadas em tecidos riquíssimos de influência italiana ou em panos da Índia, com sebastos lavrados ou rendas «à romana», linhos aplicados nas toalhas de altar e frontais texturados e volumosos bordados a ouro e flores em matiz. Mais raras, mas igualmente sumptuosas, foram as encomendas cosmopolitas realizadas em França e em Itália. O esplendor da representação estende-se à ourivesaria com um conjunto de aquisições em prata, realizadas por ourives nacionais, especialmente para a liturgia e peças de aparato para as procissões.